A maior crise financeira da Europa no século XVIII

Arthur Dambros
2 min readOct 20, 2018

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Os vícios públicos dos benefícios privados e a insistente irresponsabilidade monetária

Em 1717, John Law era diretor de uma empresa francesa chamada Companhia do Mississippi, que tratou de colonizar o vale do baixo Mississippi, fundando a cidade de Nova Orleans. Bom marqueteiro, Law espalhou boatos de que a região escondia riquezas fabulosas. Em um ano, as ações foram de 500 libras para 10 mil libras: a Companhia crescia inacreditavelmente. Paris entrou em alvoroço. Muitos venderam tudo que tinham para comprar ações. Pensavam ter encontrado um caminho fácil para a riqueza.

Até que descobriram que as riquezas do Mississippi eram só crocodilos, e as ações despencaram.

Afora a imoralidade de alguns grandes investidores, que não só mentiram sobre os prospectos da empresa como venderam suas ações na iminência da queda, todo o resto seriam perdas privadas. Maus negócios e maus investimentos. Porém, um conluio entre público e privado que teria deixado Eike Batista invejoso garantiu a invasão da esfera pública: John Law era também presidente do Banco Central francês e, para estabilizar os preços, comprou ações da Companhia do Mississippi. O volume era tanto que o banco acabou ficando sem dinheiro. Quando isso aconteceu, John Law recorreu ao controlador-geral das finanças, que era ele mesmo, e autorizou a impressão de mais dinheiro a fim de comprar mais ações.

Não foi suficiente. Os papeis perderam quase todo o valor. A essa altura, porém, o Banco Central e o Tesouro Real já tinham uma quantidade absurda de ações sem valor e uma moeda corroída pela inflação.

O crédito à França foi reduzido; a taxa de juros, elevada. Em 1780, quando Luis XVI subiu ao trono, o império ultramarino já havia caído nas mãos dos britânicos e metade do orçamento anual da França estava comprometido com pagamento de juros. Com relutância, em 1789, Luis XVI convocou os Estados-Gerais a fim de encontrar uma solução para a crise. Veio a Revolução Francesa.

Fonte: Sapiens, Yuval Al’Harari

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Arthur Dambros

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